O filme termina. Sou surpreendido com uma salva de palmas do cinema quase lotado. Estava sentado ainda atônito, segui o público e encorpei as palmas. Não sou fã do Queen, gosto de algumas músicas, mas a história e o filme me emocionaram.
Nos dias seguintes as músicas e cenas não saíam da minha cabeça. Ainda dentro do cinema, tinha decidido escrever este artigo, precisava compartilhar o paralelo que saltou aos olhos e me fez arrepiar: Bohemian Rhapsody na década de 70 e a liderança disruptiva na era digital.
No filme, Freddie Mercury usa o termo musical experience (experiência musical) para apresentar a música Bohemian Rhapsody ao Diretor da EMI na época, Ray Foster. A música era um combinado de Rock com Ópera, uma experiência musical já mais vista até aquele momento, afirmavam os integrantes do Queen.
No mundo dos negócios atualmente, 77% dos consumidores escolhem, recomendam ou pagam mais por uma marca que oferece serviço ou experiência, segundo pesquisa do Gartner.
Bohemian Rhapsody foi recusada por Foster, argumentava ele que ninguém iria querer ouvir uma música que além de ter nome estranho e ser uma mistura de estilos, tinha uma duração de 6 minutos, tempo superior ao padrão de mercado. Era fracasso certo, na visão do Diretor.
No entanto, Freddie e seu time acreditavam no seu novo “som” e sonho, bancaram a inovação. Foram corajosos. Deram o famoso “Salto de Fé”, expressão utilizada por Eric Ries, uma das maiores referências em inovação, para se referir ao momento em que os líderes inovadores buscam validar suas ideias com os clientes.
A música recebeu críticas, mas mesmo assim se tornou um sucesso na época, o mesmo ocorre quando se inova no ambiente empresarial, o novo quase sempre é recebido por críticas ou é recusado.
Um caso bem conhecido é o da Kodak que inventou a primeira câmera digital, mas não investiu na nova tecnologia, que depois ganhou escala. A grande empresa muitas vezes prefere o certo ao duvidoso e não se arrisca na disrupção, o que fez a EMI.
Esse comportamento é brilhantemente abordado por Clayton Christensen em seu livro “O Dilema do Inovador”. Na busca de fazer a disrupção acontecer, o líder disruptivo encontra no caminho “vacas sagradas”.
Diferentemente das vacas sagradas da Índia que trazem abundância, as vacas sagradas empresariais estão ali muitas vezes impedindo o crescimento da empresa. As vacas podem ser: regras, atitudes, procedimentos, bens, etc., e, frequentemente, são mantidas por que “sempre foi feito assim”, ninguém questionou as razões delas existirem.
No caso do Queen, logo que chegou à banda, Freddie convenceu os outros membros a vender algo que a banda tinha como importante: o carro que utilizavam para transportar os instrumentos.
O objetivo do líder do Queen? Produzir o primeiro disco para vender e crescer. A banda sentiu um pouco, mas logo todos entenderam e se acostumaram, o mesmo ocorre nas empresas quando se “sacrificam” as vacas sagradas.
A maneira do líder do Queen de se comunicar, ao caminhar no palco e dançar, era única e surpreendia a todos. A autenticidade era expressada também ao carregar o microfone com a haste e sem a base.
Em 1985, no Live Aid, no Estádio Wembley, Freddie surpreendeu a todos ao se conectar de uma forma natural e única com o público. Líderes que impactam multidões precisam ter uma comunicação autêntica que inspira e engaja não somente o time, mas todo o ecossistema, como aborda Simon Sinek, renomado consultor e palestrante, em seu best-seller “Start with Why”.
Solução disruptiva, experiências memoráveis, salto de fé, foco no crescimento, comunicação autêntica entre outros atributos marcaram a trajetória de Freddie e do Queen que engajaram e impactaram milhões de pessoas. No mesmo sentido em contextos distintos, um outro “show” começou com “notas” bem parecidas.
É a disrupção da forma de gerar valor para as pessoas através de novas maneiras de se modelar e liderar negócios, como protagonistas, agora, novos líderes e suas tribos que se auto organizam para engajar e impactar milhões de pessoas. Afinal, “Show must go on”, Queen.